Sebastião Salgado
Sebastião Salgado: A Fotografia como Idioma da Humanidade
Na semana em que nos despedimos de Sebastião Salgado, o mundo perde mais do que um fotógrafo. Perdemos um intérprete da alma humana, um cronista visual que nos ensinou a olhar — não apenas ver. E é justamente nesse olhar que se encontra a ponte entre sua obra e o universo dos idiomas: Salgado falava todas as línguas e, ao mesmo tempo, nenhuma. Sua linguagem era a luz, o contraste, o gesto, o silêncio.
De Aimorés para o mundo
Nascido em Aimorés, Minas Gerais, em 1944, Sebastião Ribeiro Salgado formou-se economista antes de se tornar fotógrafo. Seu percurso acadêmico e profissional o levou à Europa e à África, onde, trabalhando para a Organização Internacional do Café, teve seu primeiro contato com a fotografia como instrumento de narrativa social. Foi em Ruanda e na Tanzânia que Salgado começou a contar histórias sem palavras — usando uma câmera como se fosse um alfabeto.
A partir daí, sua carreira tomou um rumo que o transformaria em um dos maiores nomes da fotografia documental. De agências como Sygma e Magnum Photos ao trabalho autoral em sua própria agência, Amazonas Images, ele construiu um acervo de imagens que percorre continentes, culturas, tragédias e belezas naturais.
A fotografia como idioma universal
O que torna a obra de Sebastião Salgado tão conectada aos idiomas é sua capacidade de atravessar fronteiras linguísticas. Seus projetos fotográficos — como Trabalhadores, Êxodos, Gênesis e Gold — são ensaios visuais que falam com o mundo inteiro, sem necessidade de tradução.
Em um tempo em que o mundo parece cada vez mais fragmentado, Salgado nos ofereceu uma linguagem comum. Seu retrato de refugiados, camponeses, mineradores e povos indígenas não apenas revela a dignidade dessas pessoas, mas também nos convida a ouvir — mesmo quando ninguém está falando.
Fotografar para Salgado era escutar. Era interpretar culturas, tradições, dores e resistências. E, como um bom poliglota da imagem, ele adaptava seu olhar para entender e respeitar cada contexto, como quem aprende uma nova língua com humildade.
A convivência com idiomas e culturas
Salgado viveu décadas fora do Brasil, entre França e outros países, e falava fluentemente francês, inglês, espanhol e, claro, português. Seu trabalho internacional exigia o domínio de diversos idiomas — não apenas para a logística dos projetos, mas para criar pontes com as pessoas que fotografava. Como ele mesmo disse certa vez: “Você não fotografa com a câmera. Você fotografa com a alma.”
Essa alma era poliglota. Sua escuta era sensível, e sua fala — mesmo com sotaque — era permeada de empatia. Sua convivência com povos de todo o mundo o transformou em alguém que compreendia os silêncios culturais, os gestos que não precisam ser traduzidos, as pausas que dizem tanto quanto as palavras.
Lições para quem aprende línguas
A obra de Salgado nos ensina que aprender um idioma não é apenas adquirir vocabulário. É aprender a ver, ouvir e respeitar o outro. É, como ele fez, mergulhar em universos desconhecidos com curiosidade e reverência.
Para estudantes de idiomas, a vida de Salgado é um lembrete de que o objetivo final não é apenas falar bem, mas comunicar-se verdadeiramente. E às vezes, comunicar-se é estar presente, saber esperar, saber observar.
Legado
Sebastião Salgado nos deixa um legado que vai além da estética ou do engajamento social. Ele nos deixa um dicionário visual da condição humana — um idioma feito de sombras e luzes, de expressões e gestos que todos podemos entender.
Em tempos de ruídos e excesso de palavras, Salgado nos convida ao silêncio atento, à escuta visual, à empatia linguística. E nos lembra que, assim como a fotografia, aprender um idioma é um ato de amor.
Para saber mais:
Conheça o Instituto Terra, criado por Salgado e sua esposa Lélia: https://institutoterra.org
Assista ao documentário O Sal da Terra (2014), dirigido por Wim Wenders: IMDb
Leia mais sobre sua obra na Magnum Photos